Marta Cores

Marta Cores
Ilustradora
maio de 2020

 

1. Como estás?
Depende um bocado do dia e, nesta altura de quarentena, até poderia dizer que depende um bocado da semana. Há dias em que acordo cheia de energia e com muita vontade de fazer coisas e outros, em que acordo de rastos a pensar porque as oito horas de sono não fizeram efeito algum. Mas entretanto, estou a conseguir arranjar uma rotina de trabalho e actividades que me fazem sentir activa e um bocado mais “contente” com este contexto tão esquisito.

2. Onde moras?
Nasci e cresci nas Astúrias, uma pequena região da costa norte de Espanha, mas desde há quase cinco anos moro num dos bairros históricos de Lisboa. Posso dizer que tenho sorte, porque moro num quarto andar, pequenino mas com muita luz natural, de onde posso sentir o vento do rio Tejo.

3. O que te dá a sensação de um dia bem passado ou tempo bem empregue?
Quer na vida normal, quer nesta situação de quarentena, gosto de pensar que um dia bem empregue, para além de fazer os trabalhos que tenho marcados para esse dia, é um dia onde pude aprender qualquer coisa nova, ou fui capaz de aproveitar o tempo com as pessoas importantes da minha vida. Também gosto de sentir que aproveito as coisas positivas que a vida numa grande cidade me oferece, algumas como ir a ver um filme num cinema com história, desfrutar de um concerto num local especial, visitar museus e jardins botânicos, combinar com os meus amigos um churrasco no largo ou simplesmente passear pelo meu quarteirão ou por um bairro longe do meu e observar os diferentes ambientes.

4. Colaboraste connosco no Calimentário, um guia sazonal de alimentos. Podemos pedir-te que fales um bocadinho desse projecto?
A minha colaboração no Calimentário foi como ilustradora. Tive a sorte de ser convidada pela Joana para participar neste interessante e sugestivo projeto gráfico desenvolvido à volta da filosofia de vida e de alimentação macrobiótica. O resultado, foi um livro que se divide em cinco secções, que correspondem às habituais 4 estações, mais uma, que é a 5ª estação (transitória) considerada pelos macrobióticos. Cada secção apresenta os alimentos da época do ano em questão e tem associadas algumas páginas com receitas onde são sugeridas ideias para cozinhar com os ingredientes da época. O processo, foi um trabalho colaborativo, em continua ligação com a designer gráfica, coordenadora e editora do projeto, que me guiou de maneira extraordinária, de modo a conseguirmos criar uma linguagem gráfica coerente e equilibrada, que correspondesse aos parâmetros gráficos escolhidos para o estilo visual do projeto. Mais especificamente, a minha colaboração como ilustradora compreendeu a concepção das imagens do projeto completo, seja para ilustrar cada uma das secções-estações, seja para ilustrar os alimentos das receitas e práticas saudáveis correspondentes a cada época. Além disso, desenhei as tipografias destinadas aos títulos principais de cada secção-estação, bem como aquelas destinadas aos ingredientes das receitas.

5. Em que gostarias de estar a trabalhar neste momento?
Gostaria muito de trabalhar num livro para crianças, se calhar um álbum multi sensorial para a primeira infância. Mas também gostaria de criar um livro documental à volta das  de viagens, tipo atlas, ou algum jogo ou material gráfico sobre este tema.

6. Achas que aprendeste algo de relevante ultimamente?
Neste último mês, aprendi a aceitar que as coisas nem sempre acontecem como temos planeado, e às vezes, temos de aceitar o que vem, reinventar-nos e pegar na nova situação para construir mais uma vez o caminho que desejamos continuar.
Também aprendi, graças ao meu convívio com crianças nos último tempos, que nunca devemos subestimar a sua capacidade de conhecimento, aprendizagem e atenção perante o mundo. Elas são mesmo incríveis.

7. Queres dizer alguma coisa que não tenhamos perguntado?
Embora o projecto do Calimentário tenha sido concluído há alguns meses atrás, gostaria de dizer que também aprendi muito com esta experiência. Aprendi a compreender a importância que possui cuidar cada detalhe da conceptualização gráfica dos conteúdos, e dos próprios conteúdos. Ajudou-me a refletir sobre o valor artístico e gráfico do projeto, assim como cada detalhe de impressão, todos eles são factores essenciais para atingir um resultado harmonioso, com uma leitura gráfica coerente e poderosa. Também aprendi que trabalhar em equipa leva-te muitas vezes por caminhos realmente interessantes que, se calhar, em solitário, nunca tivesses escolhido.

8. Vamos às compras. Trazemos alguma coisa para ti?
Uma caneta preta do 0.38 por favor. E se conseguirem, um livro da Laura Carlin, série óptimo. Nunca consegui encontrar uma edição dela nas livrarias, nem sequer quando viajei a Londres ou por outras zonas de Inglaterra.