Desperdício alimentar e alterações climáticas

É amplamente reconhecido que o transporte de mercadorias, a desflorestação e as emissões nocivas de CO2 associadas ao consumo elevado de carne vermelha desempenham um papel significativo na pegada ecológica e nas alterações climáticas. O tema da alimentação é complexo e tem outras implicações além das ambientais, podendo incluir as sociais e/ou as relacionadas com a saúde que nos levam. por exemplo, a privilegiar produtos locais, mais frescos e menos manipulados, ou de produção biológica.

#calimentário

Quando decidimos fazer o nosso Calendário de Alimentos – CALIMENTÁRIO –, tivemos como objetivo facilitar o acesso a uma lista de alimentos sazonais que estimulasse a escolha de produtos da época (locais ou, pelo menos, de produção nacional) durante as compras em supermercados, mercados ou mercearias locais. Idealmente, à medida que mais pessoas optam por alimentos da estação, mesmo que visualmente imperfeitos, os produtores enfrentarão menos desperdício, uma vez que a seleção baseada na estética diminuirá. Infelizmente, uma parte significativa da produção é desperdiçada nos campos, e a opção de respigar nem sempre é suficiente para evitar o descarte de alimentos inadequados para venda. Apesar disso, o conceito de Gleaning*, embora praticado em algumas regiões como o Reino Unido, não é a resposta ideal pois limita-se a remediar um problema que deveria ser evitado na raiz.

O combate ao desperdício alimentar num mundo onde tanta gente passa fome, é um tema que nos interessa e, como tal, reconhecemos o trabalho louvável destes respigadores. No entanto, para esta reflexão vamos debruçar-nos no nosso Calendário de Alimentos, desejando que pelo menos contribua para a elaboração de listas de compras mais conscientes, chamando a atenção para o facto da aquisição de produtos desnecessários contribuir para a promoção de desperdício alimentar. Vale a pena lembrar, que não são apenas os animais os responsáveis pela emissão de gás metano para atmosfera. A comida descartada, exceto aquela que é compostada, também emite este gás nocivo quando acumulada em aterros sanitários, devido à falta de oxigénio.

Embora alguns de vocês leitores possam considerar esta reflexão sobre hábitos domésticos simplista e pouco significativa a uma escala global, nós acreditamos que a tomada de consciência individual é o primeiro passo para a mudança de vários comportamentos. Por esse motivo, para nós faz sentido o ditado popular “grão a grão, enche a galinha o papo”, porque acreditamos que até as pequenas mudanças podem ter um impacto significativo, mesmo que no longo prazo. Sobretudo, no que respeita à educação das gerações mais jovens, para as quais um comportamento sustentável deverá ser uma prática comum no futuro. Afinal, muitas vezes, o que inicialmente parece estranho, “depois entranha-se”..

*Documentário “Os Respigadores e a Respigadora” de Agnès Varda. (2000)

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